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Vamos todos cirandar!

Hoje estamos compartilhando a matéria da professora da UEL Cleide Mussini sobre a importância do brincar na Educação Infantil.

Vale a pena ler!


Projeto de extensão defende o resgate do espaço do brincar e do faz de conta para melhor formação da criança a valsa João e Maria, de Chico Buarque e Sivuca, de 1977, mostra poeticamente o fazer de conta, o imaginário e o espaço do brincar. Os versos fazem menção às brincadeiras tradicionais, que não estão mais presentes no dia a dia das crianças, como o pião, o bodoque e os personagens incorporados em cenas no quintal - o rei, a princesa, o cowboy. Demonstrar a importância do brincar na formação humana, bem como no ambiente escolar, é parte da proposta do projeto de extensão “Quintal da Infância: um tempo e um espaço para brincar”, coordenado pela professora do Departamento de Educação da UEL, Cleide Vitor Mussini Batista. Nos últimos quatro anos o projeto ouviu relatos de 2 mil crianças de Educação Infantil e de anos iniciais e de mais de 550 professores.


Além de realizar entrevistas, a equipe do projeto promoveu cursos de extensão com temas como Psicomotricidade e Aprendizagem, Brincares da Criança, Oficinas de Jogos junto a educadores das  redes Estadual e Municipal, beneficiando municípios da região de Londrina. Estas oficinas buscaram identificar o significado e a importância que os professores dão ao brincar, considerando a formação escolar e do sujeito.


O projeto conseguiu ainda realizar intervenções, como analisar os dados levantados nas pesquisas com professores e estudantes; promover a formação continuada de educadores com foco no brincar, além de elaborar alternativas para ampliar o repertório de atividades que possam favorecer o desenvolvimento das capacidades infantis. A professora Cleide constata que o brincar está hoje no periférico da escola, mascarado como atividade, e não como ementa ou conteúdo acadêmico nos cursos de Pedagogia ou nas licenciaturas.


Ela vai mais longe e defende a diferenciação entre brincar/brinquedo/brincadeira e jogo. Com base nos relatos de professores, ficou claro que não há compreensão clara sobre o desenvolvimento destas atividades, bem como não existe planejamento para a atividade lúdica no ambiente escolar. A professora esclarece que o brincar é desprovido da ação, mas é preciso intervenção, ou seja, incentivo para que os alunos desenvolvam a atividade do brincar de forma satisfatória.


“A criança precisa ter acesso ao simbólico, ao fazer de conta. Isto compromete a compreensão, que posteriormente pode afetar o código da escrita e a compreensão textual”, afirma a professora. Isto significa dizer que a escola, mais do que alfabetizar, precisa formar o sujeito, daí a importância do brincar. Atividades correlacionadas como jogos auxiliam as crianças na absorção de regras, ao desenvolvimento da tolerância e da frustração.


Com a experiência de trabalhar também como psicanalista, a professora testemunha que as crianças hoje têm grande dificuldade para lidar com a frustração. Entre os casos comuns que chegam ao consultório estão crianças que apresentam agressividade, dificuldades de escolaridade, inclusive apresentando problemas motores, pela falta de vivência com o corpo, movimentos e atividades físicas que o brincar oferece.


“De modo geral as crianças não conseguem lidar com a frustração, elaborar lutos de perdas. Ela vai se tornar um adulto com sérias dificuldades para suportar o sofrimento e com grande ansiedade”, atesta a professora, mencionando que o ideal é que as crianças vivam as chamadas quadras da vida, experimentando todas as fases, naturalmente.


Relatos - As entrevistas realizadas pela equipe do projeto demonstraram a importância na família no desenvolvimento infantil. Um dos relatos marcantes foi de uma criança que afirmou que a brincadeira de que mais gostava era a das cócegas, deixando transparecer a carência pelo afeto dos pais. Outro relato contundente partiu de outra criança que disse que os olhos dos pais brilhavam quando eles  manuseavam o celular, mais do que a atenção dispensada ao filho. Os testemunhos também revelaram que as crianças de escolas localizadas nos Distritos de Londrina, na zona rural, tinham mais contato com as brincadeiras tradicionais como bola de gude, pipa, jogo de bets e carrinho de rolimã.


Com base nesta experiência, a professora sustenta que o ideal seria a escola proporcionar o espaço do brincar, de forma planejada, ou seja, com o professor fazendo o papel de orientador da brincadeira. “É preciso fazer o empréstimo do imaginário, sustentar isto, propiciar elementos para enriquecer”, firma a professora, acrescentando que crianças que apresentam transtornos não armam cena, não aceitam criar metáforas. Para ela o brincar remete ao faz de conta, a experimentar vivências. Ou  como define o compositor Chico Buarque, na letra de João e Maria, relatando aventuras de heróis  cheios de coragem, que enfrentavam batalhões, alemães e seus canhões, no faz de conta pra lá do quintal em uma noite que não tem fim. Os versos relatam o que a ciência comprova. 


Cleide Mussini - professora da UEL

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